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Passagem de Vênus diante do Sol
Arkan Simaan 12/05/04

4°) Passagem de 1761

De qualquer modo, quer seja o método de Halley, quer seja o de Delisle, esta medida supunha das expedições viagens longínquas e perigosas. Delisle sabia disso. Ele sabia também que não se poderia permitir que uma oportunidade tão rara fosse desperdiçada por causa de uma única nuvem. Eis porque ele previa inúmeras missões, quer dizer, despachar homens capazes ao mesmo tempo de apontar as lunetas para o céu e de ajustar precisamente os relógios, a mil léguas de distancia. Como nenhum observatório tinha condições de arcar sozinho com uma operação de tal envergadura, custosa em homens e em orçamento, Delisle lançou por sua vez um apelo aos astrônomos do mundo inteiro, profissionais como amadores.

Entretanto, ele não podia prever a pior das ameaças, pior ainda que o mau tempo: a Guerra dos Sete Anos. Esse conflito “mundial” iniciado em 1756, visando o controle das colônias, complicou ainda mais o trabalho das missões científicas de 1761, já que a ele somaram-se a pirataria, os naufrágios e o escorbuto.

Todavia, isso não foi suficiente para intimidar os cientistas que atravessaram determinadamente as linhas de fogo. Mas houve um preço a pagar. A nau dos astrônomos ingleses Charles Mason e Jeremiah Dixon foi violentamente bombardeada pelos franceses na saída de Portsmouth, ocasionando onze mortos a bordo e trinta e sete feridos. Pouco depois, corajosamente, sem se deixar amedrontar, os dois homens embarcaram em outro navio. Enquanto isso, piratas ingleses seqüestravam o astrônomo francês Alexandre-Guy Pingré, afundavam o navio dele na ilha Rodrigues e o abandonavam sem recursos. Ao mesmo tempo, perto de Pingré, na região do Oceano Indico, Le Gentil de la Galaisière, por causa da guerra, andava a esmo de um lado para outro.

A coragem e a determinação dos 120 astrônomos profissionais e amadores que se espalharam pelos quatro cantos do mundo, acabaram impondo às monarquias inimigas um fato sem precedente: o direito de cooperação em plena guerra!

Estas desventuras e o mau tempo conduziram a uma paralaxe entre 8,28 e 10,60 segundos de arco. A principal causa desta incerteza foi a dificuldade para conhecer precisamente as coordenadas do posto de observação, principalmente a longitude (que depende do acerto dos relógios). Mas houve também a “gota negra”: nos momentos cruciais dos contatos, os melhores observadores haviam notado um ligamento entre os limbos dos dois astros. Parcialmente imputável à atmosfera de Vênus (que era até então desconhecida), a “gota negra” dificultara a detecção exata dos instantes de contato. Felizmente, os sábios tinham uma nova oportunidade para melhorar o desempenho, oito anos depois, em 1769.

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