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Passagem de Vênus diante do Sol
Arkan Simaan 12/05/04

2°) Passagem de Vênus no século XVII

A passagem de Vênus é importante por causa da história, que começa em 1627, quando Johannes Kepler publicou as Tabelas Rodolfinas, obra baseada no heliocentrismo e nas observações de Tycho Brahe, que revolucionou o calculo das órbitas planetárias.

Dois anos depois, em 1629, o sábio revelou que Mercúrio e Vênus iriam cruzar brevemente o disco solar: Mercúrio em novembro de 1631 e Vênus no mês seguinte. Tratava-se de uma feliz circunstancia que validaria as Tabelas, e, conseqüentemente, as importantes leis que ele descobrira. Ademais, esta verificação era uma preciosa contribuição para a questão do heliocentrismo, vivamente discutida, na época, nos meios eruditos. Vale a pena relembrar o contexto histórico em que tais fatos aconteciam e a decorrente importância das questões neles envolvidas. Em 1610, Galileu descobrira os satélites de Júpiter, as fases completas de Vênus, as manchas solares, etc., e lançara-se resolutamente na defesa do sistema de Copérnico. Em 1616, a Igreja reagira violentamente: não somente ela proibiu o ensino do movimento da Terra por Galileu, mas também declarou herética a idéia heliocêntrica, isto é que o Sol está no centro do mundo. Portanto, um êxito na predição dos trânsitos constituiria uma vitória para as leis de Kepler e, ao mesmo tempo, para o heliocentrismo. Não devemos esquecer que isto se passava às vésperas da publicação por Galileu do Dialogo sobre os dois maiores sistemas do mundo (1632), obra que o colocou perante o tribunal da Inquisição .

Em virtude do falecimento de Kepler, a tarefa de confirmar, em Paris, o acerto da previsão para a passagem de Mercúrio ficou ao encargo de Pierre Gassendi. Infelizmente, este sábio fracassou para o transito de Vênus: contrariamente aos cálculos, quando o planeta passou diante do Sol, era noite na Europa. Imensamente frustrado, Gassendi ignorava (como Kepler, aliás) que Vênus voltaria a cruzar o disco solar oito anos depois.



Jeremiah Horrocks, um inglês ainda adolescente, corrigiu os cálculos de Kepler, descobriu a passagem de 1639, e informou apenas um amigo, William Crabtree. Horrocks, que era pastor, se inquietava... o dia capital era domingo, dia do Senhor. Entre dois sermões, às pressas, portanto, ele correu e anotou três posições do planeta num diagrama (vide o diagrama), enquanto Crabtree, emocionado, não registrou nada: “Nós, os astrônomos”, escreveu ele mais tarde para Horrocks pedindo desculpas, “temos tendência a nos ofuscar pela luz e pela futilidade das circunstancias”.

Horrocks aproveitou-se da observação para calcular a distancia Terra-Sol, que os astrônomos traduzem por um angulo denominado “paralaxe solar ”. Com método errado, ele chegou, por acaso, a um resultado aceitável (vide o quadro).

A passagem de Vênus estaria hoje constando unicamente na ata das curiosidades astronômicas se a medição da distância Terra-Sol não estivesse no impasse a partir do fim do século 17, em razão da dificuldade para se obter esta grandeza observando o planeta Marte.


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